Linha de produção abastecida com placas solares.
Ícaro Carvalho
Repórter
Margareth Grilo
Editora de Economia
A energia que vem do sol tem sido um divisor de águas para muitos pequenos negócios no Rio Grande do Norte, ajudando a reduzir custos e aumentar a lucratividade. Exemplos se multiplicam, a cada ano. O empresário paulistano radicado em Natal, Bruno Talarico, 35 anos, resolveu investir alto e modernizar sua empresa em busca de economia e de potencializar seus lucros. Apostou numa usina solar. E o custo da energia, que era um dos principais na extração do coco para produção de snack de coco, coco ralado in natura e farinha de coco, terminou reduzindo e aumentando a margem de lucro do seu negócio.
Na Sabor de Coco, empresa fundada por ele em 2015, com foco no processamento da fruta tropical característica do RN, o gasto de energia representava até 15% das despesas mensais, há dois anos, quando decidiu investir na transição energética e buscou financiamento no Banco do Nordeste (BNB). Bruno Talarico explica que entre os equipamentos utilizados na empresa, estão raladores, empacotadores e o forno solar, uma das inovações adotadas.
“Temos motores, estrutura física de iluminação e refrigeração. Tínhamos um consumo médio de R$ 1 mil e hoje pagamos a tarifa mínima para a companhia elétrica. Essa economia gera não só aumento de empregabilidade, mas investimentos. Como somos uma indústria, precisamos sempre estar investindo em equipamentos e qualificação profissional. Com esse excedente temos mais margem dos nossos produtos, já que se reduz um custo”, relata o empresário.
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os custos com energia para micro e pequenos empreendedores podem chegar a até 20% do orçamento total de despesas.
No Rio Grande do Norte, o uso da energia solar já é realidade em 11.083 empresas comerciais, rurais ou industriais, segundo dados do Observatório da Energia Solar, divulgados pela Associação Potiguar de Energias Renováveis (APER-RN). Considerando estudos da Federação das Indústria do RN (Fiern) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apontando que cerca de 90% dos negócios instalados no RN são micro e pequenos empreendedores, a grande parcela desse público seria de MPEs.
Segundo Alexandre Ramari, superintendente em exercício do Banco do Nordeste (BNB), as micro e pequenas empresas têm apostado na energia solar como forma de maximizar lucros e ter energia limpa e sustentável em seus negócios. O BNB foi um dos primeiros bancos a criar linhas de financiamento de painéis solares para pessoas jurídicas.
“O que os empreendedores mais falam quando nos procuram é a questão da economia, buscando potencializar seus recursos financeiros. O custo da energia começou a se elevar e os empreendimentos, para se tornarem mais competitivos, querem minimizar esses custos”, cita. Em alguns casos, os pequenos negócios chegam a aumentar seu faturamento em até 30%.
Da zona urbana para a rural
A energia solar também tem conquistado o empreendedor rural, representando 3,2% das gerações no Estado. É o caso de Marcelo Rodrigues de Paiva, 50 anos, que possui uma casa de farinha há 13 anos na zona rural de Serra Caiada para processamento e embalagem de goma de tapioca para vendas na feira livre e em pequenos mercados da região. As placas solares foram colocadas há um ano e meio e financiadas pelo BNB em um prazo de cinco anos. Antes, Marcelo chegava a pagar R$ 1.900/mês na conta de luz.
“Eu fui o primeiro dos sete irmãos a colocar aqui na zona rural. Aconselhei eles a colocarem também. Tenho a casa de farinha e confinamento de bois e vacas, além de plantações. Faço a engorda do boi e uso equipamentos para moer a ração, o capim, picotadeira, forrageira, manejo de casca de mandioca. É outra economia de energia”, relata o produtor rural.
Lorena Roosevelt, gestora do Polo de Aceleração de Energias Renováveis do RN, um hub de informações, conexões, capacitações e estratégias liderado pelo Sebrae-RN, afirma que o custo com energia está sempre entre o segundo e o terceiro custo variável de um negócio.
“De fato, investir em energia solar, será sempre uma alternativa inteligente”, comenta. Ela ressalta, no entanto, que o empreendedor precisa considerar alguns fatores: se o imóvel é próprio e se possui estrutura e área adequadas para instalação de sistema fotovoltaico; e se já tomou alguma medida visando a eficiência energética, como adequação do layout do negócio.
Ela cita ainda dois pontos importantes. Analisar se os equipamentos intensivos no uso de energia, como fornos, câmaras frias, ares-condicionados estão calibrados e ter cuidado na hora da escolha do financiamento e da empresa instaladora. “O empreendedor deve analisar propostas de diferentes empresas, seu know how e qualificação técnica para ter segurança e qualidade da instalação”, diz ela.
RN lidera taxa de inserção no Nordeste
O uso da energia solar pelos pequenos negócios faz parte de uma tendência nacional e tende a crescer, segundo Lorena Roosevelt, gestora do Polo de Aceleração de Energias Renováveis do RN. “Nos últimos anos a energia solar ganhou escala e abrangência em todo o País, assumindo a segunda colocação na matriz energética brasileira com 18,2% da energia gerada, apesar da maior parte das conexões serem residenciais, os pequenos negócios vêm fazendo uso deste insumo limpo e renovável”, comenta a gestora.
Segundo ela, alguns fatores favorecem esse crescimento, como a ampla disseminação da tecnologia, as estratégias de vendas das empresas integradoras e a tendência de barateamento dos kits fotovoltaicos.
“Acreditamos que o mercado tende a crescer, considerando que a energia solar representa apenas 2% da potência instalada e o Brasil um imenso território com um grande mercado em potencial”, analisa Lorena Roosevelt.
No caso dos pequenos negócios no Rio Grande do Norte, há uma larga margem para crescimento. Atualmente, o Estado possui 238.903 mil pequenos negócios, e, segundo o estudo Pulso dos Pequenos Negócios, elaborado pelo Sebrae e IBGE, apenas 14% dos pequenos negócios fazem uso de energia solar. Esse dado é de 2022, sendo o mais recente disponível.
De forma geral, a energia solar fotovoltaica ganhou escala e fez do Rio Grande do Norte o Estado do Nordeste com maior taxa de penetração da Geração Distribuída, que é o número de unidades consumidoras com sistemas fotovoltaicos em relação ao número total de unidades consumidoras, segundo Lorena Roosevelt. A gestora explica que o RN aparece, atualmente, com uma taxa de penetração da geração distribuída de 3,3%, a maior do Nordeste e superior à média nacional, que está em 2%.
Segundo Cássio Maia, presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper), a expectativa é de que 2024 seja o melhor ano da história, alcançando a marca dos 25 mil novos projetos conectados. “Isso mostra o quanto a energia solar ainda pode crescer e tem mercado, uma vez que possibilita redução nos custos com energia elétrica em até 90%, a depender do caso”, afirma Cássio Maia.
Ele diz que a adoção do sistema de energia solar para geração própria é uma realidade mais do que comprovada. “A satisfação com o investimento se dá muito em virtude de os resultados serem imediatos. Já no mês seguinte à operação já pode ser percebida a redução dos custos com energia”, comenta. Além disso, ressalta Cassio Maia, os sistemas têm vida útil de mais de 25 anos, se tiverem manutenções periódicas.
Ele cita o caso de uma rede de farmácias no interior do Estado que após aquisição do sistema solar instalou, sem receio do aumento dos custos, um sistema de ar-condicionado em todas as suas lojas, iniciativa essa que aumentou o fluxo nas lojas em mais de 20% já nos primeiros meses.
“Casos como esse tem feito a busca pela solução continuar crescente, ao ponto de termos tido em março e abril deste ano, de acordo com o Observatório da Energia Solar, o segundo e terceiro melhor mês da história do mercado da geração distribuída”, cita. Segundo o presidente da Aper, a tendência é que esse crescimento se mantenha, sendo incentivado especialmente pela queda do preço dos equipamentos e a redução da taxa básica de juros, tornando o crédito mais acessível.
Energia solar distribuída no Rio Grande do Norte
RN tem uma taxa de penetração da geração distribuída de 3,3%, a maior do Nordeste